Uma
das histórias mais fascinantes de todos os tempos é a dos primeiros
discípulos de Jesus Cristo, registrada no livro de Atos dos
Apóstolos. Uma história de coragem, ousadia, perseguições e
sofrimentos, mas também da fantástica intervenção de Deus com
milagres, curas, conversões e manifestações do poder do Espírito
do Santo, que fazem qualquer cristão de hoje ficar boquiaberto e se
perguntar: “Por que não vemos mais esse tipo de coisa na
Igreja do século 21?”.
Na
verdade, ainda existem heróis da fé que podem testemunhar grandes
experiências e confirmar com suas vidas o ditado que afirma ser
“Deus o mesmo ontem, hoje e para sempre”. Em diversos lugares do
mundo, eles arriscam a própria vida para levar a mensagem do
Evangelho para quem ainda não conhece. Um deles é Liu Zhenying, ou
simplesmente Irmão Yun, um dos principais líderes da Igreja
doméstica na China nos últimos anos.
Apesar
de enfrentar diversas prisões, terríveis torturas, passar fome e
ver amigos e familiares perseguidos, ele nunca abandonou a visão de
que o Reino de Deus deve começar aqui e agora. Em sua autobiografia
ele conta algumas de suas aventuras e aquilo que viu Deus fazer em
seu país, onde não há liberdade para pregar a Palavra e os
cristãos são duramente perseguidos.
São
relatos de curas poderosas, conversões impossíveis, um jejum que
chegou a 74 dias, para provar a realidade de Jesus Cristo, e uma fuga
extraordinária de uma prisão de segurança máxima. Por essas e
outras, Yun tornou-se conhecido como o “Homem do Céu”, título
de seu livro e apelido que ganhou quando, durante uma batida
policial, ao ser interrogado sobre seu verdadeiro nome e endereço,
gritou: “Sou um homem do céu, meu lar é o céu!”. O código
evitou que seus irmãos na fé ficassem em risco: quando ouviram a
frase, todos fugiram para não serem presos.
Atualmente,
Yun, está exilado em Frankfurt, Alemanha, com a mulher e os dois
filhos. Lá, frequenta uma igreja pentecostal e viaja pelo mundo,
divulgado a causa dos cristãos perseguidos na China e um ambicioso
projeto missionário do qual participa, o De Volta para Jerusalém,
que tem como objetivo levar a Palavra de Deus para os países da
chamada Janela 10-40, a região menos evangelizada do mundo. Ao lado
do filho Isaac, o “homem do céu” esteve no Brasil. Entre os
muitos compromissos, orações nas madrugadas e pregações, recebeu
ECLÉSIA para falar sobre os Atos de Deus hoje.
ECLÉSIA
– Qual é a situação atual da Igreja cristã na China?
IRMÃO
YUN – Apesar
da constante perseguição, a Igreja tem crescido. Segundo números
do governo, os cristãos na China já passam de 100 milhões.
Acredito que esse número é real, pois temos uma média de mais de
20 mil conversões todos os dias. A maior parte nas igrejas
clandestinas e domésticas. Até, por isso, os crentes sofrem uma
constante perseguição. Apesar de pessoas de todas as classes
aceitarem Jesus atualmente, muita gente é bastante pobre. Os líderes
são presos por reuniões ilegais e sofrem pesadas multas. Como não
tem com o que pagar, acabam ficando muito tempo na prisão.
Mesmo
após as Olimpíadas de Pequim, em 2008, e com a abertura econômica,
a situação ainda permanece tão complicada assim?
Não
será tão simples acabar com a perseguição na China. A abertura
econômica melhorou muito a situação, permitindo a entrada de
empresários cristãos no país. Já as Olimpíadas deram nova
oportunidade para a pregação do Evangelho. Entretanto, o cristão
ainda pode ser condenado à pena de morte, é proibido falar do
Evangelho e são permitidos apenas os cultos da igreja oficial –
com hora e local controlados. Quem não cumpre essas determinações
pode ser multado, preso, ter seu negócio fechado e, se for
estrangeiro, pode ser expulso. Mesmo assim, os crentes continuam
pregando. Desde os tempos em que qualquer reunião evangélica era
proibida, mesmo as menores, nos lares, há uma grande paixão no
chinês que se converte em falar de Cristo para seus amigos e
parentes. É assim que a Igreja continua crescendo e sempre oro para
que nunca perca essa qualidade.
O
senhor é considerado um moderno herói da fé, ao lado de gente como
Billy Graham e do irmão André. Muitos são inspirados por suas
histórias, como as que conta em O Homem do Céu. Qual é o segredo
para uma caminhada bem sucedida com o Senhor?
Muitas
pessoas podem me considerar um herói da fé, mas eu sei que também
sou um pecador. Na verdade, tenho muitos fracassos, e minhas vitórias
foram pelo poder do Espírito Santo. Muitos milagres aconteceram na
minha vida, e isso eu posso dizer que é obra do Senhor.
Eu
não tive muito estudo, mas aprendi, como todo bom cristão, o quanto
a Palavra de Deus é poderosa. Desde o primeiro dia que comecei a
crer em Jesus Cristo, descobri o quanto cada passagem da Bíblia é
verdadeira. E essa crença se tornou a base de toda a minha vida
cristã – eu verdadeiramente creio na Palavra de Deus.
Quando
estive na cadeia, diante de todo aquele sofrimento eu passei pelo
vale da sombra da morte, mas a Palavra de Deus veio até a mim me
encorajando para que eu lutasse e para que eu fosse fiel até a
morte. Se a Bíblia diz que devemos orar, então eu oro; se a Bíblia
diz que temos que ser fiéis, então eu sou fiel.
Durante
o ministério, eu testemunhei muitas pessoas se convertendo para
Jesus. Por quê? Porque a Palavra diz “ide para todas as nações e
pregai o Evangelho”. Então, Deus vai fazer isso. Por pregar o
Evangelho, eu fui açoitado, zombado, injustiçado, passei por muito
sofrimento na cadeia. Mas sempre Deus estava comigo e me sua Palavra
me suscitava, porque esse é o seu poder. Eu não me envergonho do
Evangelho, porque o Evangelho é o poder de Deus. E eu acredito
também que quando o Senhor me chamou, eu já estava preparado e
tinha convicção desse chamado.
O
senhor se converteu ao Evangelho em 1978, época em que Mao Tse Tung
estava no poder e a revolução cultural, em plena execução. Como
era servir a Deus na China, no auge do regime comunista?
Quando
uma pessoa vive no meio do sofrimento, depois de um certo tempo não
se sente mais sofrido. Minha mãe e outros pregadores me falaram que
os missionários do Ocidente que trouxeram o Evangelho para a China
sofreram para pregar o Evangelho.
Quando
ganhei minha Bíblia, li na Palavra e testemunhei em minha vida que
todos aqueles que quiserem seguir Jesus devem estar preparados
para levar a cruz. Em uma nação ateísta, onde não há liberdade
religiosa, isso é ainda mais significativo. Naquela época, alguém
que declarava sua fé e se convertia a Jesus enfrentava falsas
testemunhas, era condenado em um julgamento forjado e ia para a
cadeia.
Ficava
lá por anos, até o fim da vida ou até recebia pena de morte. Pior
eram as torturas. Essas práticas eram tão doloridas, que com o
tempo a pessoa pensava em desistir. Eu mesmo passei por isso.
Hoje eu posso dizer que temo ao Senhor porque, em cada situação, a
Palavra de Deus me sustentou. Nos piores momentos, ele me lembrava
daquele versículo “todos aqueles que queiram viver piedosamente em
Cristo Jesus serão perseguidos”.
Foi
crucial na minha caminhada transformar a Palavra de Deus em meu
fundamento inicial. Logo que me converti, comecei a decorar a Bíblia.
Depois, já na prisão, toda a noite, cantava, recitava versículos e
pedia a Deus a Palavra e ele trazia à minha mente. Também
aproveitava para escrever trechos das Escrituras nos rolos de papel
higiênico. Era a única forma de outros presos terem acesso aos
textos, já que esse tipo de livro era confiscado, queimado. Eu
sempre falo para os missionários e pastores que desejam entrar no
mundo muçulmano, no mundo ateísta, para não levarem a Bíblia
impressa ou no computador, mas dentro do coração.
Que
tipo de tortura o senhor chegou a sofrer nas prisões chinesas?
Enfrentei
coisas que para o pessoal do Ocidente é difícil até imaginar. Mas
com certeza a soma dessas torturas não chega perto do sofrimento de
Cristo na cruz. Havia todo tipo de tortura: agulhas enormes espetadas
em seus dedos e embaixo de suas unhas, dormir ao relento ou sem
cobertas no duríssimo inverno chinês, tomar choques elétricos, ser
preso com algemas muito apertadas, para provocar profundos cortes.
Às
vezes, os guardas praticavam artes marciais em mim. Uma vez,
espancaram-me tentando triturar minhas pernas para que eu não
andasse mais e não pudesse pregar o Evangelho. Passei por tudo isso.
Sem falar nas torturas psicológicas, com ameaças à minha família
e aos irmãos em Cristo. Diante dessas situações, a primeira
coisa que vem a sua cabeça é, como Judas, negar Jesus. E se você
não tem certeza de que serve o Deus verdadeiro, acaba capitulando.
Depois,
tentam fazer você delatar locais de culto, irmãos e contatos. Se
abrir a boca, toda a família daquela pessoa será duramente
perseguida. Preferia morrer a ver que algum irmão foi pego por minha
causa. Mas chegar a esse ponto requer entregar a vida diariamente ao
Senhor. Ou, como dizemos, “tapar as brechas”.
Até
hoje trago cicatrizes e cortes em todo o corpo por conta de minhas
decisões. Resultado das torturas sofridas naquele tempo. Mas aprendi
que nos momentos cruciais Deus sempre dá a vitória e uma estratégia
para vencer o sofrimento. Uma delas era fechar os olhos para não ver
torturadores e instrumentos de tortura.
Apenas
me concentrava em Jesus. Não que isso evitasse o medo, mas ajudava a
olhar apenas para Cristo. Para seguir o Senhor é preciso pagar um
preço, os apóstolos e outros mártires foram decapitados,
crucificados de ponta cabeça, queimados. Meu sofrimento é muito
menor. Naqueles momentos, também pensava nesses modelos e me sentia
encorajado a desafiar a morte.
Parece
que o senhor gosta muito de orar. As igrejas que o receberam
testemunharam que o senhor tem orado até de madrugada. O senhor
acredita que os cristãos orientais esqueceram da importância da
oração?
Jesus
nos deu um modelo, um exemplo de como servir a Deus. Ele acordava
antes de amanhecer e ia à montanha para orar. Em momentos cruciais,
antes de tomar decisões, ficava orando a noite toda. Mesmo depois de
dias intensos de trabalho ou de ministério, Jesus ainda subia na
montanha para orar à noite. Ele é meu modelo.
Não
ter tempo para Deus é ser muito orgulhoso, pois Jesus, mesmo sendo
filho, orava. Somente através da oração o céu se abre e o poder
de Deus é derramado. Tenho para mim que aquilo que mais influenciou
os discípulos não foram as palavras do Senhor, mas seu exemplo,
principalmente no sentido de depender do Pai e confiar, em oração.
Por
isso, pediram que Jesus os ensinasse a orar. Existe aquele ditado:
mais oração, mais poder; menos oração, nenhum poder. Seja uma
igreja, seja uma instituição evangélica, seja uma pessoa, pode ter
o melhor projeto, mas sem oração, por mais que se esforce nunca
dará certo. No final, a pessoa só se sentirá frustrada.
Não
adianta falar com convicção e autoridade como Pedro, que nunca
negará a Cristo. Todos são tentados e mesmo que sejam fortes,
cairão. A menos que estejam de joelhos. Realmente, orar e vigiar em
oração, e meditar dia e noite a Palavra de Deus, isso é o segredo
de uma vida cristã vitoriosa. Não existe avivamento sem esse tipo
de vida.
O
Ocidente só terá avivamentos genuínos quando recobrar a vida de
oração. Em qualquer lugar, se o avivamento, o crescimento da
Igreja, não vierem acompanhados de uma revolução na vida de
oração, é de se estranhar ou contestar esse avivamento. Muitos
ouviram que a igreja da Coréia é uma igreja de oração, e eu
queria dizer que a igreja na China também é uma igreja de
oração.
Você
vai ver que a pregação dos pastores coreanos não é tão profunda,
é uma pregação simples. E você vai ver também que a mensagem dos
pregadores chineses também é simples; entretanto têm tanto poder
que muitas vidas são convertidas. A mesma coisa acontece quando
Jesus pregava, ele pregava com autoridade, diferente dos mestres e
sacerdotes.
Isso
porque a pregação de Jesus tinha poder. E nossa época é uma época
em que falta energia, a igreja precisa voltar a restaurar a vida de
oração. Vou para muitos lugares em todos os continentes e não me
lembro de um monte de coisas. Mas lembro das orações. Se há uma
igreja onde alguém quer acordar às quatro, cinco horas da manhã,
eu largo tudo e acordo para orar com eles.
Quando
as igrejas enfrentam divisões, brigas entre líderes, pastores, você
pode ver que são fracassadas na oração. Sonho com o dia em que os
milhões de crentes aqui no Brasil possam provocar congestionamentos
nas ruas por causa das orações das quatro, cinco horas da manhã.
(risos)
Tradicionalmente
a China é considerada um campo missionário, porém essa realidade
vem mudando nos últimos anos. Parece, inclusive, que o país já se
prepara para se tornar uma potência no envio de missionários no
século 21. Isso é verdade?
Realmente.
O mundo inteiro envia recursos para a obra na China, ora pelo
Evangelho lá, auxilia de alguma maneira a Igreja Perseguida. Isso é
importante, pois o país tem a maior população do planeta, com 1,3
bilhão de habitantes e os cristãos lutam diariamente para levar a
Palavra de Deus a todos eles.
Mas
poucos Ocidentais sabem que cada vez mais intercessores cristãos
levantam- se na China, de madrugada, chorando e orando pela Europa,
pela América, pela obra de Deus. Acredito que Deus tem um plano para
a China. As igrejas de lá estão atendendo o chamado de Deus para
levar o Evangelho de volta a Jerusalém.
São
três fases do trabalho: alcançar o interior do país, depois o
Oriente Médio e, por fim, chegar a Jerusalém. Da Grande Muralha ao
Muro das Lamentações. Eu acredito que o mover do Espírito Santo
levantará muitos dos que estão na China para levar o avivamento
para todo o Ocidente e, com esta visão, cumprir esse projeto de
Deus.
Dessa
forma, de volta para Jerusalém parece ser o projeto missionário de
maior impacto da atualidade…
Essa
visão não é somente para a China, mas para todas as igrejas do
mundo. Só que além de oração é preciso também convicção. Um
de nossos ideais é fazer com que esses livros que falam contra Deus
se tornem peças de museu e, proporcionando novas oportunidades,
possamos reavivar a Europa e entrar no mundo muçulmano, hindu e
garantir uma Bíblia para cada pessoa.
Apesar
de termos hoje na China esse fogo no meio cristão, ainda falta a
visão e o preparo transcultural. Por exemplo, aprender a trabalhar
como os Ocidentais, enviando empresários com visão também do Reino
para lugares como o Oriente Médio e a própria China, profissionais
liberais para trabalhar nessas nações.
Países
comunistas e anti- cristãos estão de braços abertos para essas
pessoas. A Igreja Ocidental tem mais de 200 anos de experiência
nisso e pode usar os meios de comunicação, como revistas, jornais e
televisão para preparar os chineses. Quem entra na China, em certos
países do leste asiático, no Tibet deve ter consciência de que vai
sofrer, estar convicto do chamado de Deus.
Nosso
treinamento missionário na China é diferente do Ocidente. Um
missionário que queira levar o Evangelho de volta a Jerusalém
primeiramente deve orar em todo o lugar e em todo o tempo. Depois de
conhecer, deve decorar toda a Bíblia, para não levar um monte de
material.
Testemunhar
de Jesus não é somente pregar no púlpito. Mesmo sem pregar, na
prisão, o testemunho continua sendo transmitido. Talvez a Igreja do
Ocidente não entenda, mas devemos estar sempre prontos para morrer
por Cristo e até fugir da prisão.
Como
começou essa visão e quantos missionários já foram enviados?
Essa
visão não começou na China, mas no Ocidente e eu estou
compartilhando. Depois de divulgar essa visão em todo lugar do
mundo, muitas igrejas estão preparando isso. E cada denominação,
igreja do mundo todo, está fazendo de uma maneira diferente, mas a
visão é única.
Pelo
menos 500 missionários da China já estão mobilizados e trabalhando
para cumprir esse projeto. Creio que, num futuro próximo, Deus vai
levantar uns 100 mil missionários para pregar a budistas, hindus e
muçulmanos. Eu sei de igrejas na África, na Europa e na América
que já estão respondendo a essa visão. Como é um movimento de
Deus, que vai se espalhando, é difícil precisar quantos estão
envolvidos em todos os lugares.
Pode
explicar melhor a diferença entre o treinamento dos missionários da
China em relação aos daqui?
A
verdade é que o mover de Deus sempre se renova. Quando eu estava na
China, não pensávamos em usar internet, computador, revistas, a
mídia. Quando fui morar na Alemanha, percebi que o mover de Deus no
Ocidente é diferente daquele feito na China. A Igreja ocidental
consegue entrar no mundo muçulmano ou na própria China com
empresários, médicos, cientistas, intelectuais e isso deve ser
aproveitado.
Mas
para os mais pobres na China a pregação é feita de boca em boca.
Pela ação do Ocidente, um hotel de três, quatro ou cinco estrelas
na China pode conceder um espaço para passar conteúdo evangélico,
porque eles querem clientes, querem visitas. Usam diversos meios para
atrair clientes.
Apesar
das proibições para tantos na China, existem muitos sites que
espalham o conteúdo cristão. Eu mesmo faço agora programas na
internet e mesmo de televisão para algumas cidades chinesas.
Recentemente, conseguimos um dos maiores canais de televisão para
transmiti-lo. Com contrato assinado pelo próprio governo.
O
que o governo chinês teme é um movimento que possa derruba-lo.
Quando tiramos essa característica, não há resistência. Mas
também há lugares mais fechados, em que não há nem uma coisa
nem outra. Para discipular, treinar, o método usado na China precisa
se adaptar a cada realidade, coisa difícil de se entender no
Ocidente. A cruz da China e a cruz do Ocidente são diferentes, mas o
peso é o mesmo. (risos) Uma pesa pela perseguição, a outra, pela
tentação do prazer e da busca desenfreada de riquezas.
O
senhor vem de um país em que 50% da população é formada de ateus.
Diante de mundo tão cético, no qual Deus é colocado de lado, qual
é a importância das experiências sobrenaturais, como aquelas que
são narradas em seus livros?
As
experiências sobrenaturais de minha fé são importantes, mas muito
mais as vidas transformadas, o maior dos milagres de Deus. A grande
maioria dos chineses pode não acreditar em Deus, mas acreditam que
têm espírito e algo depois da morte. Até mesmo membros do alto
escalão do Partido Comunista Chinês e do governo pensam dessa
maneira.
Não
prego e testemunho para derrubar o comunismo, mas para quebrar os
pensamentos e levar todos de joelhos ao Senhor Jesus. Ainda falando
sobre as experiências que experimento com Deus, não acho que uma é
melhor que a outra. Na verdade, importante é viver a cada dia algo
novo de Deus em minha vida.
De
mim, sinceramente, não voltaria a fazer aquele jejum de 74 dias
novamente. Mas naquele momento, era algo de Deus, para provar sua
força e poder. Mesmo a fuga da prisão ou a maneira como saí da
China e fui para a Alemanha, ocasião em que Deus mandou que
confiasse nele e fechou os olhos dos inspetores da alfândega para
que eu pudesse passar, foram momentos únicos.
Tenho
apenas a educação fundamental e sei que Deus é quem faz tudo
por mim. E o mais importante: usa meu testemunho para levar as
pessoas a ele. O cristão deve saber que coisas maiores Deus ainda
fará em sua vida. O espetáculo está apenas começando. (risos)
Sua
pregação aborda bastante o problema do sofrimento, como algo
natural para quem quer servir a Cristo. Mas aqui no Brasil, grande
parte das igrejas crescem muito usando o discurso da prosperidade, da
bênção. Não é uma distorção, uma deturpação do Evangelho o
que está acontecendo no Ocidente?
Esse
assunto é muito polêmico, mas meu sofrimento é muito útil para
mim. O sofrimento alargou o meu coração, porque pessoalmente não
sou uma pessoa de fácil obediência. Deus usou o sofrimento para me
transformar. Acredito que na vida do crente, Deus pode transformar a
pobreza em riqueza.
Se
você crer em Jesus, seus pensamentos mudam e, pela fé, podem surgir
grandes bênçãos. A Bíblia ensina que Jesus foi açoitado para que
nós fôssemos curados, e o castigo que sofreu nos trouxe a paz. Tem
cristão que fica com uma enfermidade por muito tempo e não pode
provar que a Bíblia tem ajuda.
Mas
prosperidade não é a essência do caminhar com Deus. Quando cheguei
na Europa e na América do Norte, fiquei espantado com os imensos
templos, mas não encontrei sinais da presença do Senhor por lá, da
autêntica vida do discípulo. Não importa se Deus permite que você
esteja numa situação de riqueza ou de pobreza.
A
sua atitude deve ser sempre viver para o Senhor Jesus. Se tenho dom
para os negócios, devo usar isso para abençoar a Igreja, para
ajudar os necessitados, para aplicar na obra missionária. Costumo
dizer que viver na pobreza também é um dom de Deus, porque não é
A igreja que precisa ser reformada atualmente, um crente precisa se
tornar um discípulo verdadeiro de Jesus Cristo.
E
a vida cristã tem que ser aplicada todo o dia, em todos os momentos
da sua vida. Cada casa deve se transformar numa igreja, e a igreja
tem que se transformar numa igreja do Reino. Porque o propósito de
Jesus é vir para transformar a cidade, a nação toda. A existência
da igreja não somente para alavancar o império pessoal de um líder,
mas expandir o Reino de Deus. Jesus não veio ensinar para os crentes
que uma megaigreja, uma igreja gigante, mas que a igreja opera para a
expansão do Reino.
O
senhor ainda pretende um dia voltar para a China?
Muitas
vezes eu sonho que estou pregando o Evangelho na China. Acredito que
num futuro bem próximo terei a oportunidade de voltar para lá. E eu
creio que Deus ouviu nosso clamor, porque a China já está mudando.
Mas voltar para a China não é para sempre, mas para cumprir a visão
de levantar muitos cristãos chineses, missionários e sair para
preparar e levar o Evangelho de volta a Jerusalém.
Pessoalmente,
meu grande objetivo não é apenas voltar à China, mas me tornar um
mártir por Jesus. Tenho certeza que Deus não está olhando somente
para a China, mas também para todo o Oriente Médio e de volta para
Jerusalém. Isso, na verdade é a visão da minha vida, eu estou
testemunhando isso em todos os lugares e perseguindo esse objetivo.
Eu amo a minha nação, oro pela salvação da minha nação.
E
espero que o povo chinês também saiba agradecer a graça da
salvação e se levantar para pagar a dívida do Evangelho, através
desse movimento de levar o Evangelho de volta para o Oriente Médio,
para Jerusalém, pagando até com juros a dívida do Evangelho,
qualquer um que aguenta, que suporta a pobreza.
Mas,
se não fosse assim, muitos não poderiam ouvir a verdade. Jesus
Cristo criou um equilíbrio de que quem tem bastante, ajuda aquele
que tem pouco. O Reino de Deus não consiste em riqueza material. É
um erro ir ao culto apenas atrás disso. Aquele exemplo de Pedro, em
Atos 3, quando disse não ter ouro ou prata, mas sim a graça de
Deus, o que faria o mendigo levantar e andar, mostra bem o que deve
ser a vida do cristão.
Autor:http://eclesia.com.br/portal/entrevista-irmao-yun/
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